Sob o Céu do Norte: Vivências na Noruega
Por Arthur Soares, gestor de produtos da Orion Operadora
Minha primeira vez no norte do mundo me deixou ansioso para voltar. A Noruega é um destino de paisagens deslumbrantes e muita cultura, e durante duas semanas consegui provar um pouco do que o país tem a oferecer.
Na tarde do dia 25 de março desembarquei em Oslo, a capital. Apesar da estadia ter sido curta, uma caminhada pela cidade já foi o suficiente para ter um gostinho do lugar. Oslo fica no sudeste do país e está a cerca de 20 minutos de trem do aeroporto Oslo Gardermoen. Tem ruas amplas e é esteticamente linda, com muitos prédios de arquitetura marcante, uma mistura entre o estilo europeu clássico e a evolução do design escandinavo.
Com a Opera House, o museu Munch e o Vigeland Park, Oslo tem atrações para todos os gostos. É uma cidade que mistura arte, história e design moderno de um jeito muito natural. Outro detalhe que me chamou atenção foi o silêncio. Mesmo sendo uma capital movimentada, tudo parece calmo e organizado. Descobri que cerca de 80% dos carros em circulação são elétricos, o que explica parte dessa tranquilidade sonora. Isso me surpreendeu bastante e diz muito sobre o compromisso do país com a sustentabilidade.
No dia seguinte pela manhã, comecei o pretour exclusivo para o Norwegian Travel Workshop 2025, a convite da Innovation Norway. Foi uma oportunidade incrível, não só pela programação, mas pelas pessoas que conheci durante esses dias. Estar com um grupo tão diverso, com profissionais do turismo de várias partes da América Latina, deixou a viagem ainda mais especial.
Nosso voo para Tromsø durou cerca de duas horas. Assim que aterrissamos, o cenário mudou completamente. Tudo branco, coberto de neve. O contraste com Oslo era impressionante. Tromsø é conhecida como a capital da aurora boreal e realmente faz jus ao título. A cidade está localizada dentro do Círculo Polar Ártico e é um dos melhores lugares do mundo para observar o fenômeno. Entre setembro e abril, quando o céu está mais escuro, as chances de ver a aurora aumentam bastante, mas é importante lembrar que a natureza não segue roteiro, então o ideal é ficar ao menos três noites por lá para aumentar as chances de avistamento.
Além da aurora, Tromsø oferece várias experiências únicas no inverno, como passeios de trenó puxado por huskies, snowmobile, pesca no gelo e visitas a fazendas de renas conduzidas por povos sami. Tive a oportunidade de visitar uma dessas fazendas, onde alimentei as renas e aprendi um pouco sobre a cultura e as tradições do povo sami, que tem uma presença forte no norte da Noruega. Foi uma vivência simples, mas muito rica em significado.
Depois da visita, seguimos para o teleférico de Tromsø, que leva até o topo do monte Storsteinen. Importante mencionar que ele será fechado para reforma em breve, então foi uma sorte ter conseguido visitar. Apesar da forte nevasca naquele dia, que impediu a vista panorâmica da cidade, a experiência ainda assim foi incrível. Estar naquele cenário, cercado por montanhas cobertas de neve e com o vento frio no rosto, fez tudo valer a pena.
Depois disso, uma caminhada leve pela cidade revelou ainda mais do charme pitoresco de Tromsø. Apesar de ser um dos principais destinos do norte da Noruega, ela tem alma de cidade pequena, com ruas tranquilas, casas coloridas e um clima acolhedor. Fizemos uma pausa rápida em um bar e cervejaria local, e ali, no contraste com esse cenário intimista, estava ele ancorado no porto: o cruzeiro Hurtigruten, nossa próxima etapa da viagem.
O navio faz o trajeto completo pela costa norueguesa, começando em Bergen e terminando em Kirkenes, com duração de cerca de seis noites. É uma excelente opção para quem busca um estilo de viagem mais tranquilo, no ritmo do slow travel, ideal para contemplar as paisagens incríveis do Ártico e dos fiordes noruegueses com conforto.
Ficamos duas noites a bordo e, sendo bem sincero, esse foi o meu primeiro cruzeiro. No início senti um pouco de enjoo, mas nada que atrapalhasse a experiência. O navio oferece diferentes tipos de pacotes, desde apenas café da manhã até pensão completa, e tem vários espaços aconchegantes para relaxar e observar a paisagem. Um dos destaques foi a jacuzzi externa, com água quente, onde consegui entrar mesmo com a temperatura do lado de fora marcando -1 grau. A sensação de estar imerso na água quente, cercado por montanhas cobertas de neve e o mar gelado ao redor, foi surreal.
O navio faz paradas em diversos portos ao longo da costa, e nossa primeira parada no dia seguinte foi em Nordkapp. O lugar é conhecido por ser o ponto mais ao norte da Europa continental, e foi também a primeira vez na viagem que senti realmente frio. Mas o que pega mesmo por lá é o vento. Nordkapp é um penhasco imponente que fica bem na beira do oceano, então as rajadas são fortes e constantes.
Chegando lá, assistimos a um vídeo que mostrava as quatro estações da Noruega e como o país muda completamente ao longo do ano. Foi lindo ver como a paisagem se transforma e como cada estação tem seu charme. Depois, tomamos um chocolate quente e, mesmo sendo um grupo de adultos, não resistimos a brincar um pouco na neve. Porque, vamos ser sinceros, quando tudo está branco ao redor e você está ali, no topo do mundo, é impossível não se deixar levar.
O trajeto até Nordkapp levou cerca de uma hora de van desde o porto, e a vista durante o caminho foi ficando cada vez mais impressionante. À medida que subíamos pelas estradas cobertas de neve, a paisagem se abria de um jeito que tirava o fôlego, e não só por causa do frio.
De volta ao navio, tivemos uma experiência gastronômica que trouxe um pouco da culinária nórdica para a mesa. A entrada foi o famoso King Crab, que pudemos ver se mexendo no tanque logo ali, perto do restaurante. Para beber, foi servido um espumante local, maturado dentro do oceano, uma delícia refrescante que combinava perfeitamente com a atmosfera do lugar. E o prato principal? Carne de rena, uma verdadeira iguaria da região, que veio acompanhada de sabores intensos e bem marcantes.
Mas o jantar foi interrompido por um aviso do capitão: algo muito mais especial estava à nossa espera. A aurora boreal estava lá fora. Deixamos tudo para trás, sem nem pensar na sobremesa, e saímos correndo para o deck. Não sei bem como descrever o que senti naquele momento, mas a emoção foi tão forte que nenhuma foto poderia capturar a magnitude da experiência. No início, era difícil de enxergar, seu olho não está acostumado a identificar as luzes, mas, à medida que as auroras começavam a se revelar no céu, com suas cores dançando e explodindo diante de nós, a sua beleza se tornava impossível de ignorar. Era um espetáculo que tocava fundo na alma. E claro, voltamos para a sobremesa depois, mas nada seria mais doce do que aquele momento.
No dia seguinte, desembarcamos em Kirkenes, uma cidade que fica bem na fronteira com a Rússia. Considerando que moro em Porto Alegre, nunca estive tão longe de casa. Fomos recebidos pela Nina, que trabalha no famoso Snowhotel, e começamos o dia explorando um pouco da região.
A primeira parada foi na Andersgrotta, um bunker subterrâneo da época da Segunda Guerra Mundial. Kirkenes foi duramente bombardeada e praticamente destruída pelos nazistas, e esse bunker era um dos principais pontos de refúgio da cidade. Caminhar por lá, ouvindo as histórias e imaginando o que as pessoas viveram naquele espaço apertado e escuro, foi bem impactante.
Depois seguimos para alguns pontos próximos à fronteira com a Rússia. Ver as marcações de divisa e saber que o país vizinho está atualmente em guerra trouxe um misto de curiosidade e tensão. Foi uma experiência única, daquelas que você guarda com respeito.
Logo depois chegamos ao Snowhotel, que parece saído de um conto de fadas. Quem se hospeda ali pode escolher entre passar a noite em uma das cabines aconchegantes ou se aventurar no hotel de gelo, com temperatura interna de oito graus negativos. Confesso que dessa vez fiquei com a opção mais quentinha, a cabine confortável. Mas quem sabe da próxima?
Tivemos um mini tour pela propriedade, que fica à beira de um lago totalmente congelado. A paisagem era surreal. Logo na chegada, já alimentamos as renas, acariciamos os cães do husky park e em seguida partimos para uma das atividades mais especiais, a pesca do King Crab. Em trenós puxados em grupo, fomos até o centro do lago, onde os caranguejos-reis eram retirados de gaiolas submersas. O tamanho deles impressiona. E o melhor, depois da pesca, o chef preparou tudo, nos mostrando como limpá-los, cozinhá-los e, claro, como comer da maneira certa. Uma verdadeira aula gastronômica, deliciosa por sinal.
É bom se planejar e garantir tanto a hospedagem quanto as atividades com antecedência, porque essa região costuma ter bastante procura, principalmente durante o inverno, quando as temperaturas podem chegar a impressionantes trinta graus negativos.
Na manhã seguinte, fomos andar de snowmobile. Foi, sem dúvidas, minha atividade favorita. Apesar de não podermos acelerar tanto, o frio batendo no rosto e a sensação de liberdade naquele cenário todo branco foi inesquecível. À tarde, foi a vez do passeio de trenó com os cães husky. Enquanto a gente deslizava pela neve, o guia foi contando sobre o revezamento dos cachorros, os cuidados que eles recebem e como são treinados desde pequenos, o que pra mim fez toda a diferença. Me senti parte da rotina local e foi uma experiência super divertida.
Antes de nos despedirmos do Snowhotel, quisemos aproveitar cada momento. Me juntei com outras brasileiras e realizamos aquele sonho clássico de infância: fazer um boneco de neve no meio do Ártico. Teve risada, foto e muita nostalgia. E à noite, quem sabe, a aurora não aparecia mais uma vez? Pegamos um tour com um senhor da região que nos levou até a fronteira com a Finlândia. Lá, longe de qualquer luz, conseguimos ver mais um pouquinho desse espetáculo da natureza. Foi mágico.
E não posso esquecer das refeições no Snowhotel. Cada prato era uma experiência à parte, super bem apresentado, com sabores típicos do norte e combinações surpreendentes. Comer ali, com aquela vista do Ártico, deixava tudo ainda mais especial.
Depois de dias intensos no extremo norte, foi hora de nos despedirmos daquele cenário congelado e embarcar rumo a Bodø, a capital cultural europeia de 2024 e também sede da NTW 2025. A cidade, que fica bem acima do Círculo Polar Ártico, é uma mistura interessante de natureza bruta e arte contemporânea. Apesar de ser conhecida pelos ventos fortes (e posso confirmar que eles estavam presentes!), Bodø também surpreende com seu clima criativo, ruas com instalações artísticas, arquitetura moderna e uma cena cultural super viva.
Como estávamos lá por conta da feira, os dias foram um pouco corridos, mas ainda assim conseguimos aproveitar. Caminhamos um pouco pelo centro, onde arte e design urbano se encontram por todos os lados. A cerimônia de abertura foi linda e super bem produzida, com apresentações que mostraram um pouco do espírito local. Já o jantar de encerramento foi daqueles que dá vontade de repetir – não só pela comida, mas pela atmosfera de celebração e conexão com pessoas do mundo inteiro.
Durante a estadia, também tive a chance de visitar o Jektefartsmuseet, um museu dedicado aos antigos barcos de carga chamados jekt, que foram essenciais no comércio costeiro da Noruega por séculos. O museu é super moderno, com uma exposição interativa que mostra não só a história da navegação na região, mas também o papel desses barcos no desenvolvimento do norte do país. É uma experiência que mistura tradição, tecnologia e uma vista linda do fiorde. Bodø é aquele tipo de cidade que te surpreende: pequena em tamanho, mas cheia de identidade, inovação e paisagens de tirar o fôlego. Foi um ótimo encerramento pra uma viagem tão especial.
Encerrar essa viagem é quase tão difícil quanto colocar em palavras tudo o que vivi. Cada parada no caminho me trouxe algo novo, uma paisagem que me tirou o fôlego, uma cultura que me ensinou mais sobre respeito e conexão com a natureza, ou simplesmente um momento de silêncio sob o céu ártico, tentando absorver o que parecia irreal.
Do frio cortante de Nordkapp à emoção de ver a aurora pela primeira vez, da adrenalina de pilotar um snowmobile até a paz de um jantar com vista para um lago congelado, tudo teve um brilho único. Me senti criança fazendo boneco de neve e também parte de algo maior ouvindo histórias da Segunda Guerra em um bunker norueguês. Experimentei sabores que nunca imaginei, conheci pessoas incríveis e, mais do que tudo, vivi intensamente cada instante.
Volto pra casa com os olhos ainda cheios de neve e luzes dançantes, e com o coração aquecido por tudo o que essa terra me ofereceu. A Noruega, em sua versão mais gelada e acolhedora, foi mais do que um destino: foi um mergulho em sensações, silêncios, descobertas e beleza genuína. E como toda boa viagem, essa não termina aqui, ela continua em mim, nas memórias, nas fotos, nas histórias que vou contar e na vontade de voltar um dia. Porque quem já viu o Ártico de perto, nunca mais é o mesmo.
Tusen takk, Noruega. Até breve.